ARTFORUM
Novembro/November 1989
Rui Chafes. Depois de para sempre - VII. 1988. |
Rui Chafes. Depois de para sempre - VIII. 1988. |
Nas suas
primeiras exposições, Rui Chafes apresentou escultura para um lugar específico.
Uma só construção enchia a galeria, deixando apenas o espaço necessário à
circulação dos visitantes. Algumas destas construções tinham interiores
suficientemente largos para que se pudesse aí entrar.
Materialmente,
elas estabeleciam frequentemente o contraste entre elementos “naturais”, tais
como o bambu e a madeira, e outros “artificiais”, tais como o plástico. O jogo
dos diferentes materiais era determinado pela relação entre forma estrutural e
superfície, sendo o efeito final realçado pela escolha de cor, da textura e da
iluminação.
As
instalações de Chafes correspondem a uma afirmação da impossibilidade, ou
dificuldade, do objecto. Isto é sugerido pela escala sobredimensional do
trabalho, pela sua presença agressiva, construção precária e natureza efémera.
Acima de tudo, a sua escultura releva da tradição romântica, segundo a qual
cada objecto apenas existe simultaneamente como testemunha de impossibilidade e
portador de esperança.
Nesta sua
exposição, Chafes apresentou também este tipo de objecto escultural. Cada
objecto foi concebido como parte de um todo e foi exposto numa instalação
preparada meticulosamente. “Depois de Para Sempre” (1988) é o título desta
última série de esculturas de Chafes. “Sempre” é uma expressão que, no discurso
de amor corrente, significa o curto trajecto entre vida e morte. A expressão
“depois” introduz o espaço de transcendência romântica – o espaço da alma.
Trata-se de
esculturas em metal com um acabamento cromático e textural apurado. Chafes
combina várias formas circulares e ogivais. As formas circulares, esféricas,
constituem pólos centrípetos de estabilidade e clausura; as formas ogivais
representam uma configuração dinâmica de aberturas.
Em geral,
esta variedade de estruturas e operações formais e materiais estabelece um
sentido ambíguo de contenção e de apelo. As possibilidades de interpretação e
de sugestão alusiva são imensas e permanecem abertas: o núcleo materno
original, do qual se forma e projecta um corpo, ou uma flor que cresce no cimo
de um caule, que se abre e fecha, seca e morre. As esculturas evocam a
necessidade do crescimento e a natureza material da morte.
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In his early exhibitions, Rui Chafes showed site-specific sculpture. A
single construction would fill the gallery, leaving only the necessary space
for the circulation of the viewers.
Some of these constructions had interiors that were large enough to be
entered. Materially, they often contrasted “natural” elements, such as bamboo
and wood, with “artificial” ones, such as plastic. They play of different
materials was determined by the relation between structural form and the
surface, and the total effect was enhanced by the choice of color, texture, and
illumination.
Chafes’ installations correspond to an affirmation of the impossibility,
or difficulty, of the object. This is suggested by the works’ superdimensional
scale, aggressive presence, precarious construction, and ephemeral nature.
Overall, his sculpture relates to the romantic tradition, according to which
each object only exists as both witness to impossibility and bearer of hope.
In his exhibition here, Chafes also presented this kind of sculptural
object. Each was conceived as a part of a whole, and was exhibited in a
meticulously prepared installation.
“Depois de Para Sempre” (After Forever, 1988) is the title of this
latest series of Chafes’s sculpture. “Forever” is an expression that, in the
current love discourse, signifies the short circuit between life and death. The
expression “after” introduces the space of romantic transcendence – the space
of the soul. These are metal sculptures with a refined chromatic and textural
finish. Chafes combines various circular and pointed forms. The circular,
spherical forms constitute centripetal poles of stability and enclosure; the
pointed forms represent a dynamic configuration of openings.
As a whole, this range of formal and material structures and operations
establishes an ambiguous sense of restraint and invitation. The possibilities
of interpretation and allusive suggestion are immense and open: the original
material nucleus, from which a body is formed and projected, or a flower that
grows on the top of a stalk and that opens and closes, withers and dies. The
sculptures evoke the necessity of growth and the material nature of death.
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Alexandre Melo, “Rui Chafes – Galeria Atlântica”,
in Art Fórum International, vol. XXVIII, nº 3, Novembro de 1989.
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