Pedro Calapez
Flash Art, 1988
Pedro Calapez
cria também um espaço genético. Mas em Calapez a diferença é que a violência se
converte em retirada, a guerra em silêncio e o dourado em prateado. Esta
interioridade parece disfarçada porque se apresenta como um espaço cénico, de
espectáculo. Contudo é sempre um estádio pessoal duma realidade impossível,
lugar de uma intimidade última. A relação com o exterior torna-se dupla: faz-se
a partir da utilização de formas volumétricas que tomam dimensões
arquitecturais quando em contacto com o movimento das linhas horizontais; e a
partir da articulação das formas de acordo com o conhecimento das proporções
antigas e sagradas, ou de acordo com a ambiguidade da sua destruição deliberada
pela acção subjectiva do autor.
A sequência
desta evolução fez com que Calapez simplificasse os referentes volumétricos e
começasse a elaborar composições mais complexas aumentando o número de pontos
de vista daqueles elementos formais escassos. As tensões internas/externas e a
simplificação/complexificação são visíveis na afirmação linear que as formas
volumétricas tentam adquirir; assim como na conjugação de soluções
tridimensionais ilusórias com elementos pictóricos bidimensionais. A solução
última é o predomínio das qualidades dos elementos abstractos em toda a
composição. Tudo emerge como que dependente dum olhar analítico, dum jogo de
sangue frio, que nos remete para um situação post-mortem. Enquanto
espaço abstracto, próximo do fim da história, a pintura de Calapez surge para
testemunhar uma realidade perdida; manuscrito incompleto da memória de um
conhecimento que precisa de ser decifrado, como um enorme mapa do céu que
fascina o nosso olhar.
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Pedro Calapez created a genetic space. But in Calapez the difference is
that violence becomes a retreat, war becomes silence, and the golden colour
turns silver. This inferiority appears to be disguised, because it presents
itself as a scenic space, a show-place. However, it is always a personal stage
of an impossible reality, a place with ultimate intimacy. The relation with the
exterior becomes twofold: from the use of volumetric forms that gain
architectural dimensions when they come into contact with the movement of
horizontal lines; and from the articulation of the forms according to knowledge
of the ancient and holy proportions of its deliberate destruction by the
author’s subjective action.
The sequence of this evolution made Calapez simplify the volumetric
referents and start to make more complex compositions by the increasing number
of points of view of those scarce formal elements. The internal/external tensions
and the simplification/complexification are visible in the straightforward
affirmation which the volumetric forms tend to gain; and in the conjugation of
tridimensional illusionary solutions with bi-dimensional pictorial elements.
The ultimate solution is the domination of the qualities of abstract elements
throughout the composition.
Everything emerges as if dependent on an analytical look, on a
coldblooded game, as in a post-mortem
situation. As an abstract space, closed to the end of history. Calapez’s
painting emerges to witness a lost reality; memory’s incomplete manuscript of a
knowledge that needs to be deciphered, like an enormous sky map that clings to
our eyes.
Traduzido por/Translated by: Maria
Madalena Simões Proença
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Alexandre Melo, “Dossier Portugal”, Flash Art,
Milão, nº138, Jan/Fev, 1988
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